Artigo Científico
Este texto baseia-se num projeto de Doutoramento em Sociologia
intitulado: “Nas teias da intervenção: trabalho social, formação
pós-graduada e práticas profissionais no Terceiro Setor”. Focamos
o campo do trabalho social, tendo em conta, por um lado
a formação superior, particularmente a pós-graduada, e por
outro, os contextos organizacionais do terceiro setor (TS), enquanto
lugar de redefinição das práticas profissionais (Dubar,
1989). Considerando a centralidade dos trabalhadores sociais
no TS, na inovação social (IS) e empreendedorismo social (ES),
associada à prossecução da mudança social com vista a uma sociedade
mais justa (Amaro, 2012; Martins, 1999), analisamos os
processos de identificação socioprofissional gerados nas trajetórias
formativas e profissionais de trabalhadores sociais inseridos
em organizações do terceiro setor.
O trabalho social é, aqui, entendido como um campo profissional
composto pelo conjunto de atividades exercidas em contexto
organizado que visa “pessoas ou públicos com dificuldade de integração
social ou profissional numa perspectiva de ajuda, de
assistência ou de controlo, de mediação (...) de animação ou de
coordenação” (Chopart, 2003, p. 17). As evoluções paradigmáticas
neste campo oscilam, grosso modo, entre o assistencialismo
e a inovação social - designação que aqui adotamos para aglutinar
um conjunto de abordagens desenvolvidas no âmbito das
diferentes formações de base, cujo denominador comum é a
aposta na emancipação dos indivíduos e públicos envolvidos
pela intervenção social - (Payne, 1996; Romans, Petrus, & Trilla,
2003). Contudo, as realidades nacionais divergem no que toca à
constituição deste campo de atividade, tanto na dimensão politíco-
adminstrativa, como na dimensão da formação académica,
e ainda, na dupla dimensão grupal e institucional da constituição
dos grupos profissionais.
O terceiro setor define-se como um conjunto de organizações
que partilham determinadas caraterísticas – o carácter privado,
a ausência de finalidades lucrativas, o objetivo de beneficiar
a comunidade ou os seus membros, o carácter autogovernado e
voluntário e o grau de organização formal, assim como, um tipo
de racionalidade e valores específicos. Adotamo-lo lato senso, em associação com aceção abrangente de economia social (Defourny
& Develtere, 1999), dando conta da sua diversidade interna
(Chaves & Monzón, 2007).
Neste texto, partilhamos uma reflexão téorica em torno do
impacto dos (des)equilíbrios entre a especialização e a transversalidade
na estruturação de modelos curriculares em educação
para o trabalho social. A relevância desta reflexão decorre dos
riscos de desprofissionalização e desqualificação do campo do
trabalho social, resultantes da sobreposição da lógica da regulamentação
pelas qualificações pela lógica da competência que
provoca a desestabilização da relação salarial, promove a proliferação
de novos perfis de ocupações e motiva o apelo crescente
ao voluntariado (Chopart, 2003, p. 277).
Para explorar o carácter contextual do desenvolvimento de competências
transversais, recorremos, por um lado ao cenário do
movimento cooperativo, enquadradado na acepção lata de terceiro
setor, e por outro, ao cenário histórico da institucionalização
da assistência social durante o Estado Novo.
Os resultados intermédios do projeto surgem como indicadores
da pertinência do investimento na especialização neste campo
de estudos, e consequentemente, na profissionalização deste
conjunto de técnicos superiores que podem assumir papéis determinantes
no desenvolvimento da intervenção social.
Publicação
Ano da publicação: 2014
Identificadores
ISBN: 978-972-8969-06-6